domingo, 20 de dezembro de 2009

NATAL.



Quando chega o natal, muita coisa vem ate nossa mente. Lembranças, fagulhas, ritos, tudo o que a gente passou, vem como numa espécie de rememoração e reavaliação do que passou. Eu não me lembro dos primeiros natais, lembro mais ou menos a partir dos sete anos, pode ser que seja mais ou menos, não sei.
Nesta época morávamos, no que se chamava Matão Real e hoje se chama Bathã, beirando a avenida Brasil em Realengo. Naquela época, minha tia avó Dorinha, já morava em casa, e íamos todos para a casa dela. Guardávamos nossos melhores trajes, e íamos para o grande quintal, onde tinha 3 casas e varias barracas. Chegando lá, tinha todos os pratos tradicionais, mais o que mais me lembro, eram as “porcarias”, que nem sei se as crianças curtem hoje, eu amava, coquinhos e afins, assim como a tradicional castanha portuguesa que não pode faltar na casa de um evoriano.
Era uma festa! Minha tia, ainda djulli, colocando discos na vitrola recém comprada, e meu tio implicando, porque queria que os violões entrassem em ação, rs rs sr................ Logo, logo o som dos violões no grande quintal, ecoava. Musicas, como lutsari, gary, gary, ou lisboa querida compartilhavam com musicas nordestina, ao sabor do matchatcho, suiy, mol, lovina, e delicias. Eu era muito tímida, dançava um pouco, falava pouco.
O natal era mais para ver aquela nossa gente dividindo tudo. Mia Bibi, de fardisara cor de abóbora, mia madra de cordis verde, e aquela sensação de que Cristo, era um cara que so os mais velhos conheceram quando ele era vivo.
Hoje vejo os festins, corre corre nos mercantis, shoppings, presentes, para nós ciganos, não tem nada disso. Não nos preocupamos com esta parte.
O Natal cigano é conhecido como sendo uma festa em grande, cujas comemorações, semelhantemente aos casamentos, podem chegar a prolongar-se por três dias. Mas nem em todos os grupos são assim.
À semelhança do que acontece nas casas não-ciganas, onde o bacalhau cozido com couves e batatas constitui a refeição tradicional da noite de Cristo.
“À mesa” como dizemos, é posta, porque no Natal “pomos nossa mesa” no chão, sobre uma toalha branca, como manda a tradição. Para a comunidade o Natal tem o mesmo significado que para os restantes cristãos, mas muito mais importância. Para nós, esta é a época mais importante do ano, razão porque é habitual viverem-na intensamente, numa festa em grande que, frequentemente, chega para desfazer atritos e outros males que se fizeram presentes durante o ano.
Saliente-se, no entanto, que a dimensão das comemorações está relacionada com as posses dos diferentes grupos. A simplicidade da festa aumenta na mesma proporção em que diminuem os recursos de cada família. “Quem tem comer, come. Quem não tem, não come”.
Na casa dos ciganos “ricos” mas que ainda mantêm vivas as tradições normalmente comem o que se vende nas feiras -, é costume a festa começar no dia 23 de Dezembro e estender-se até ao dia 25, dia de Natal. A mesa farta é um dos requisitos da época, pelo que a confecção dos diferentes pratos nos aprisionam durante horas na cozinha. Para além do bacalhau cozido, com couves e batatas, já referido, não falta igualmente o bolinho de bacah e as frutas. No dia de Natal, as mesas enchem-se com cabrito assado e batata assada, carne guisada com batata cozida, galinhas cozidas, grão de bico, saladas de fruta e pudins. Iguarias destinadas não só aos convidados, como também a todos os que quiserem aparecer. É habitual os ciganos andarem de casa em casa, de barraca em barraca, e apanhar um bocado em cada mesa, a pedirem a benção ao cigano mais velho.
E se tratando de nós, festeiros como somos, tudo isso regado a sempre uma boa musica!

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